domingo, 17 de agosto de 2014

Vou lhe dizer o que pega e onde pega:

Uma criança cega é uma criança cega. Ninguém lhe pede para enxergar, a ser igual aos colegas. A casa onde mora é adaptada às suas dificuldades, ela vai para a escola levando um gravador, depois digita a matéria em casa numa máquina de Braille, estuda, faz a prova também em Braille, toca a vida dessa forma.
Uma criança surdo-muda não ouve e não fala. Ninguém lhe pede para ouvir e falar, ficar igual aos colegas. A família aprende Libras, na escola alguém traduz o que a professora diz, aprende a ler e escrever, toca a vida dessa forma.
Uma criança paraplégica não anda. Ninguém lhe pede para andar, ser igual aos colegas. A casa onde mora é adaptada às suas dificuldades, a escola constrói rampas para que possa se movimentar, os espaços são imaginados para ela, toca a vida dessa forma.
Uma criança com autismo não se socializa tipicamente. Todos lhe pedem para se socializar, ficar parecida com os demais, a casa onde mora permanece como sempre foi, a escola idem, a culpa do autismo é jogada sobre seus ombros e ela passa metade do dia e da vida em terapias torturantes para se parecer com os demais.
Em casa, na escola, na sociedade, na rua, no clube, em todo lugar todos podem ser como são. Menos o autista, esse que se exploda, ninguém está a fim de mudar uma vírgula para que ele siga sendo quem é, daí o sucesso de terapias comportamentais, dietas restritivas, consertos de um neurônio de cada vez, drogas, leis, o diabo a cinco.
É isso o que pega, e é aí que pega, e vai continuar pegando.


Fonte: 

Nenhum comentário:

Postar um comentário